Qualquer pessoa que acompanhou o noticiário brasileiro nos últimos meses leu ou assistiu alguma matéria sobre invasão hacker em alguma empresa grande, ocasionando prejuízos milionários. Esses ataques não foram casos isolados: segundo levantamento da Fortinet, o Brasil registrou aproximadamente 314,8 bilhões de tentativas de ataques cibernéticos no primeiro semestre de 2025, concentrando 84% dos incidentes detectados na América Latina e no Canadá. São números que colocam o país no centro de um problema global: como proteger ambientes digitais quando os ataques acontecem a cada segundo?
A América Latina, segundo dados da Kaspersky de 2025, enfrenta um aumento anual de 25% em incidentes cibernéticos desde 2014, com mais de 726 milhões de ataques de malware bloqueados nos últimos 12 meses. Diante desse cenário, a redução da exposição aos riscos exige a combinação de cultura de segurança e tecnologia. Equipes cientes dos golpes mais comuns formam a primeira linha de defesa, crucial para a segurança. A conscientização sobre práticas seguras, como a validação de links e a desconfiança de mensagens suspeitas, deve ser parte integrante do dia a dia corporativo.
Paralelamente à capacitação humana, uma nova geração de tecnologia tem transformado a forma como empresas se defendem: os agentes autônomos de inteligência artificial na cibersegurança. Diferentemente de ferramentas tradicionais que aguardam comandos, esses sistemas funcionam como guardiões digitais capazes de raciocinar, planejar e agir de forma independente.
Na prática, isso significa que, ao identificar um comportamento anômalo, como um funcionário acessando dados confidenciais de madrugada, o sistema não apenas gera um alerta. Ele pode, autonomamente: 1) Isolar o dispositivo da rede para evitar que uma possível ameaça se espalhe; 2) Bloquear temporariamente as credenciais do usuário; e 3) Iniciar um playbook de resposta a incidentes, tudo em questão de segundos. Essa capacidade expande a defesa para uma escala e velocidade impossíveis de serem alcançadas manualmente.
A implementação desses agentes exige planejamento cuidadoso e não acontece de forma imediata. O processo de construção passa por etapas fundamentais que garantem eficácia e segurança. Inicialmente, é necessário mapear os ambientes e sistemas que serão protegidos, identificando pontos críticos e definindo objetivos claros para os agentes. A fase de testes é essencial, momento em que os agentes precisam ser treinados com dados históricos de ameaças e simulações de ataques reais, permitindo que aprendam a reconhecer padrões e ajustem suas respostas.
Durante essa etapa, especialistas avaliam o comportamento dos sistemas em cenários controlados, validando decisões e corrigindo possíveis desvios antes da operação em produção. A implantação gradual, começando por ambientes menos críticos, permite ajustes finos e garante que os agentes estejam alinhados às políticas de segurança da organização. Esse processo demanda colaboração entre equipes de segurança, analistas de dados e gestores de TI, assegurando que a tecnologia seja integrada de forma consistente à infraestrutura existente.
Os agentes autônomos trazem vantagens práticas para ambientes corporativos. A detecção em tempo real permite respostas imediatas a incidentes, com orquestração automatizada de ações corretivas que reduzem o tempo entre identificação e contenção da ameaça. A capacidade de adaptação dinâmica possibilita que o sistema evolua taticamente contra vetores de ataque novos e complexos, algo fundamental quando os criminosos modificam suas estratégias constantemente.
Outro benefício é o aumento da produtividade, já que, ao automatizar tarefas repetitivas de monitoramento, essas ferramentas liberam as equipes de segurança para decisões estratégicas de maior impacto. O monitoramento contínuo garante proteção proativa 24 horas por dia, sete dias por semana, reduzindo vulnerabilidades que surgem em períodos de menor vigilância humana.
Recentemente, implementei essa tecnologia na Skyone, considerando não apenas os benefícios, mas alertando minha equipe sobre os cuidados necessários. Protocolos rígidos são fundamentais para evitar comportamentos inesperados dos agentes autônomos, que podem gerar falhas ou riscos maiores se não forem adequadamente supervisionados.
A transparência nas operações é outro ponto crítico: humanos precisam compreender as decisões tomadas pelos sistemas para intervir quando necessário. A governança de dados exige atenção especial, já que esses agentes acessam informações sensíveis e sistemas internos da organização. O monitoramento constante previne que os agentes sejam usados indevidamente ou desviem de seus objetivos originais. Questões éticas, como o impacto em populações vulneráveis e o risco de exclusão digital, também devem estar no radar de quem implementa essas soluções.
Por isso, acredito que a combinação de capacitação humana, processos estruturados e tecnologias como agentes autônomos de IA forma uma estratégia consistente de defesa. Em um cenário global de escassez de talentos especializados em cibersegurança, um déficit de milhões de profissionais, segundo a (ISC), a automação inteligente não é mais uma opção, mas uma necessidade estratégica. O investimento em tecnologia avançada, aliado a uma cultura de segurança resiliente, representa o caminho mais eficaz para proteger os ativos digitais em um país que se tornou alvo prioritário no mapa global de ciberameaças.
Por Rennan Sanchez, CTO da Skyone